quarta-feira, 21 de março de 2012

“cara-crachá”

O bordão humorístico “cara-crachá”, do porteiro interpretado por Paulo Silvino, indica que a função dele é controlar o acesso à empresa.
Talvez esse personagem não tenha a exata noção do poder que lhe é dado, pois ele poderia barrar até o dono, se este não portasse o crachá!
Poderoso ele, hein? E, em alguns casos, pode estar armado e com “licença para atirar”!
No entanto, normalmente ele só pararia o chefe se não o reconhecesse e sequer exigiria que ele pusesse o crachá. No máximo, lembraria educadamente das normas de segurança.
Regra com exceções informais?
Bem, também haveria o caso das senhoras elegantemente trajadas, que consideram o crachá antiestético... E como há marmanjos que se “derretem” facilmente, estes aceitarão sorrisos “identificadores” ou permitirão até que portem o crachá na bolsa...
O crachá é ótimo para identificação, tanto que empresas e eventos o usam. No caso de corporativo, o cartão eletrônico reduz a intervenção desses profissionais.
Já no caso de prédios residenciais, a interação com os porteiros é primordial, pois gera confiança e segurança.
É uma função importante, para a qual a pessoa deve ser preparada, inclusive psicologicamente, para atuar com eficiência e cordialidade.
Como em qualquer área, no entanto, há os que extrapolam, quem sabe para compensar frustrações ou limitações pessoais, descarregando seu ressabio em terceiros, como ocorreu com um amigo:
Seu crachá havia soltado do suporte e ele o portava na mão. Assim o exibindo, ele passou sem problemas por duas portarias. Ao passar pela terceira, de controle de veículos por outra entrada, seu ocupante, ao vê-lo com o identicação na mão, saiu da guarita para exigir que ele a prendesse no cordão. Educadamente, meu amigo informou do problema, mas o funcionário foi grosseiro, insistindo para que ele “desse um jeito”.
Posteriormente, meu amigo precisou pegar a chave de um carro nessa guarita, onde havia dois funcionários, inclusive o mencionado indivíduo.
Meu amigo se dirigiu ao outro, mais próximo, para pedir-lhe a chave, mas foi informado de que ela não estava lá. O “cara-crachá” se intrometeu de forma deselegante, perguntando: “Qui carro qui tu qué?”.
Meu amigo ignorou a intervenção grosseira, mesmo porque o outro já identificara a localização da chave. Agradeceu e seguiu seu caminho...
É lógico que é preciso relevar certas atitudes, para evitar problemas. Afinal, diz o ditado: “Quando um não quer dois não brigam”. Mas não podemos esquecer que a importância ou ascendência de nossas funções, quaisquer que sejam, não nos autoriza a abusar delas.
É fundamental que quem atua em contato com o público seja treinado e orientado para cumprir seu papel de forma adequada!
Caso contrário, a falha não será apenas de quem está lá, mas também – e muito! – de quem o colocou o “cará-crachá” lá...

Curiosidade: em francês, crachat significa “cuspida”. Em outros idiomas, seus termos equivalentes são: badge (inglês e francês), distintivo, insígnia e divisa, entre outros

terça-feira, 6 de março de 2012

As muitas faces do genocídio


Segundo o “Aurélio”, genocídio é: “S. m. Crime contra a humanidade, que consiste em, com o intuito de destruir, total ou parcialmente, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, cometer contra ele qualquer dos atos seguintes: matar membros seus; causar-lhes grave lesão à integridade física ou mental; submeter o grupo a condições de vida capazes de o destruir fisicamente, no todo ou em parte; adotar medidas que visem a evitar nascimentos no seio do grupo; realizar a transferência forçada de crianças de um grupo para o outro.”
É fácil associar indivíduos como: Hitler, Stalin, Truman, Saddan, Milosevic, Herodes e muitos outros, a essa ação substantiva. Isso porque a eles estão associadas participações diretas no processo. Mas, muitos dos dirigentes atuais - dos tiranos que mantêm o poder pela força, aos que o obtêm pelo voto direto – e criminosos, também praticam atos e tomam decisões que podem ser caracterizadas como genocídio, direta ou indiretamente. Por conta disso - perdoe-me o saudoso dicionarista - creio que a definição carece da seguinte alteração: Onde se lê: “... destruir, total ou parcialmente, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso”, deveria ser lido: “... destruir, total ou parcialmente, um grupo nacional, étnico, racial, religioso ou social”. Assim, poderíamos incluir no rol de vítimas de genocídio: as classes menos favorecidas, os socialmente excluídos e todos os que são vítimas de opressão e da incompetência ou omissão dos governos.
Esse pequeno adendo permitiria que expressões como: “causar-lhes grave lesão à integridade física ou mental” e “submeter o grupo a condições de vida capazes de o destruir fisicamente, no todo ou em parte”, caracterizassem o tráfico de drogas e de qualquer outro produto que gere dependência química ou psicológica como genocídio. A adulteração ou falsificação de remédios, então: teria lugar de “honra” nesse contexto!
A cafetinagem também seria incluída, pois a prostituição expõe a doenças venéreas e letais, além de destruir a auto-estima. Isso já é terrível, mas não consigo imaginar maior crime contra a humanidade do que a prostituição infantil, por “realizar a transferência forçada de crianças de um grupo para o outro”, ou seja, da inocência infantil para o mundo cruel de adultos pervertidos!
Outra prática “tradicional” que poderia ser enquadrada é o desvio de verbas públicas destinadas à educação, segurança, saúde e alimentação. Afinal, quem faz isso provoca a morte lenta e cruel de milhares de pessoas; trata seres humanos como mercadoria descartável ou lixo! Em sã consciência, jamais poderia ser nomeado para ocupar cargo público, eletivo ou não!
E o que dizer dos indivíduos que cobram propina para conseguir ou liberar dinheiro público já destinado a investimentos sociais? Ou dos que vendem merenda escolar? E os superfaturamentos? Não provocam o mesmo resultado? Afinal, o excesso de verba, que vai parar no bolso de corruptos ou no “caixa 2” de partidos, poderia ser usado para melhorar as condições de vida das pessoas mais humildes!
Bem, tudo isso implica em concluir que corruptores e, principalmente, corruptos, além de moralmente desprezíveis, são, também, conforme sobem de nível (ou melhor, descem...) genocidas!
Mas, será que alterar a definição de genocídio no dicionário mudaria alguma coisa? Talvez...
Quem sabe alguém resolva puni-los “exemplarmente”, com a pena máxima: 30 anos de reclusão, com direito a progressão de pena para regime semi-aberto, após alguns anos, por “bom comportamento”...