segunda-feira, 21 de junho de 2010

Entre Braços e Abraços

A França chegou à Copa de África carregando um pesado fardo, pois a imprensa mundial não perdoou sua classificação pela mão de Thierry Henry!


O curioso é que todos desculparam o gol de Maradona contra a Inglaterra, em 1986...


A única explicação que encontro, nesse caso, é que ninguém perdoa os ingleses pelo título de 1966, que também foi muito parecido com o da Argentina, em 1978. Assim, parece que acharam justo que nuestros hermanos revidassem nas quatro linhas o revés ainda recente da Guerra das Malvinas.


Franceses ou argentinos, não havia muita diferença entre os dois casos, só que é mais fácil ficar ao lado da Irlanda do que a favor da França. No mais, no calor do jogo, bola na mão ou mão na bola sempre pode acontecer e cabe ao árbitro interpretar cada lance. O mesmo vale para as jogadas corpo a corpo e divididas em geral e, nesse âmbito, o jogo Brasil x Costa do Marfim teve um pouco de tudo.


Para começar, não gostei da escalação de arbitragem francesa, afinal, querendo ou não existe uma ligação cultural relativamente forte entre a França e este país africano, que começa com o próprio nome do país Côte d'Ivoire. O desenvolvimento do jogo mostrou que eu não estava de todo errado, pois, principalmente depois do terceiro gol brasileiro, os marfinenses começaram a bater pesado, sem que o árbitro tomasse atitudes mais rígidas. Duas soladas homéricas - uma que tirou o incansável Elano do jogo, de forma alarmante - foram punidas de forma extremamente branda, enquanto Kaká, caçado em campo, foi punido com um amarelo e, depois, numa encenação grotesca do jogador africano, expulso.


Felizmente, já era tarde para uma reação adversária, embora Drogba tenha reduzido.


Por sorte, os franceses também gostam de futebol bonito e, com certeza, o árbitro ficou tão encantado como nós e o público do estádio e mundo inteiro, quando o Fabuloso Luís Fabiano, num lance espetacular, usou a cabeça, dois chapéus, os braços - duas vezes - e toda categoria que Deus lhe deu para marcar um golaço. Ninguém no mundo teria anulado aquela jogada. Seria um pecado mortal!


Ok, seo juiz: ta perdoado por expulsar o Kaká!


Além disso, o Dunga já deveria tê-lo tirado depois do cartão amarelo. Mas isso também não tem problema, pois, já o Brasil já está classificado, Kaká está melhorando tecnicamente, o time está subindo de produção, Nilmar pode entrar no próximo jogo, dando tempo para o camisa 10 evoluir fisicamente e voltar zerado para a próxima fase.


Para tudo dá-se um jeito!


O resultado foi justo e mostrou as duas apostas de Dunga dando resultado, com Kaká tendo sido decisivo e Luís Fabiano marcando dois. Elano marcou mais um, numa belíssima antecipação, antes de ser covardemente solado por um marfinense. Deus queira que ele se recupere rapidamente, pois ele precisa e merece ser titular desse time.


A defesa brasileira continua firme, com um Lúcio que não cansa de nos impressionar e um Júlio César que saiu muito bem, quando preciso, e não teve culpa no gol.


Resumo da ópera: estamos classificados e mostrando um futebol convincente no segundo tempo. Até Felipe Melo não comprometeu!


Bem, agora é esperar o jogo contra o Portugal para tentar consolidar a liderança do grupo.


Estamos fazendo a lição de casa, mas ainda precisamos estudar mais para, na técnica, na garra e, até, no braço, gritar gol e sair para o abraço!


Vamos nessa Brasil!

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Memórias do Rádio Esportivo


Comecei a acompanhar narrações esportivas mais atentamente por volta dos 11 anos de idade, no início da década de 1970.
O tipo de narração era mais ou menos padrão: um speaker de voz poderosa e rápida, estilo turfe; um comentarista de voz lenta e doutoral; e um ou dois repórteres de campo, além do plantão esportivo, que informava resultados de outros jogos.
Em Santos, eu costumava escutar a Rádio Atlântica, cujo narrador era Walter Dias, com comentários de Jorge Shammas e reportagens de João Carlos, o corisco dos repórteres. É verdade que várias vezes a torcida já estava gritando gol e o narrador ainda estava no meio de campo. Lembrando disso, me veio à mente o impagável esquete do narrador de futebol gago, imortalizado por Zé Vasconcellos...

Quando o Santos FC jogava clássicos, no entanto, eu preferia ouvir a Rádio Nacional de São Paulo, que tinha Pedro Luiz, Mário Moraes, Juarez Suares e Roberto Carmona.
Aí, um dia, eu passeava pelo dial do rádio de pilha quando descobri a Jovem Pan.

O estilo narrativo era irresistível, a começar por Osmar Santos, que reinventou a transmissão esportiva, trazendo a ?firula? do campo para a voz. Não foi à toa que passou a ser chamando de Pai da Matéria.
Os outros narradores da Pan eram apenas José Silvério e Edemar Anusek! Os comentaristas também eram supimpas: Orlando Duarte e Cláudio Carsughi, com seu sotaque italiano indefectível, ainda mais preciso quando acompanhava o Velho Barão, Wilson Fittipaldi, nas corridas de Fórmula 1, nos tempos de Emerson, Wilsinho e José Carlos Moco Pace. No campo, desfilavam Fausto Silva (o Faustão) e Wanderley Nogueira; equipe que teve, mais tarde, o aporte de um jovem cabeção de Muzambinho: um tal Milton Neves... Mas, o que mais me surpreendeu foi o que veio depois do futebol e antes do Terceiro Tempo, que na época era um noticiário geral, de fim de domingo da emissora. O nome desse programa resumia com absoluta perfeição o que ele era: Show de Rádio. Seus protagonistas: Estevam Sangirardi, Nelson Tatá Alexandre, Carlos Roberto Escova, Odayr Batista e, algum tempo depois, Serginho Leite. Eles personificavam personagens hilários, que representavam, entre outros, cada time grande de São Paulo: o Palmeiras tinha a Nona, o Fumagalli e o cachorro Vardema Fiúme; o Corinthians tinha o Zoca Zifio, o Pai Jaú e a Nega; o São Paulo tinha o Lorde Didu Morumbi e seu mordomo corintiano, sistematicamente assim chamado: - Archibald! Archibáaáaáaáald!; e o Santos tinha dois portuários: o Zé das Docas e o Lança-Chamas, este invariavelmente bebaço e, entre um cochilo e outro, perguntando: - O Santos joga hoje?

Os domingos e quartas-feiras terminavam mais felizes, e eu, ainda menino, tinha a ilusão da eternidade das coisas boas... Até que a Rádio Globo de São Paulo, sucessora da Nacional, resolveu contratar Osmar Santos e, de quebra, levou Faustão, Tatá e Escova, provocando o que foi uma das maiores disputas entre emissoras da época, com direito a editoriais e acusações de assédio.
Osmar Santos, que vivia a dizer para os jogadores mascarados: Desce daí! Desce daí, que você não ta com essa bola toda!, virou o Pai do merchandising, mandando tanto Oi, fulano! Oi, sicrano!; que a torcida já estava gritando gol, quando ele se tocava que tinha um jogo em andamento. Na nova casa foi criado o Largo da Matriz, programa nos moldes do Show de Rádio e, logo em seguida, Faustão, Tatá e Escova começaram a apresentar a primeira versão do caótico Perdidos na Noite, na TV Gazeta, que depois foi para a Band e, mais adiante, o então gordinho (Ô loco, meu!) foi sozinho para perpetrar o Domingão do Faustão, na Globo.

As transmissões esportivas radiofônicas voltaram a ficar resumidas aos jogos, plantões esportivos e programas muito parecidos entre si, cujo diferencial único estava num narrador ou comentarista mais espirituoso.
Ainda bem que existe o Na Geral, da Rádio Bandeirantes, que conta com um gênio Beto Hora. É impressionante como ele consegue interpretar três personagens brigando entre si, ao mesmo tempo! Mudar de um tipo para outro, entre dezenas, sem perder o rumo! E ainda dar opiniões sérias por esses alteregos.

Esse é um dos muitos fascínios do rádio, talvez o maior deles, só comparável à leitura: mexer com nossa imaginação!

Esse é um dos muitos fascínios do rádio, talvez o maior deles, só comparável à leitura: mexer com nossa imaginação!

Por essas e por outras é que, em suas múltiplas e dinâmicas facetas, o rádio vive em constante processo de reinvenção de si próprio e, quando bem utilizado: informa, entretém, educa e também sabe ouvir.