terça-feira, 5 de julho de 2011

Folhas Mortas

“Moro num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza", já dizia Jorge Benjor. Mas, confesso que gosto mais do inverno que do verão.


É verdade que quando o frio é intenso não dá a menor vontade de sair da cama. Um simples e necessário banho se transforma num extremo exercício de masoquismo, sobretudo quando, por uma daquelas infelicidades do destino, falta energia ou “queima” a resistência do chuveiro, sem estoque de reposição... Obviamente, estou falando de males que só afetam os simples mortais, que usam chuveiro elétrico. Mas, pelo "andar da carruagem", os "gasosos" também devem ficar "espertos"... Nesse contexto: viva os "solares"!

É claro que uma noite quente e cheia de gente nas ruas é uma festa! Mas uma noite fria e estrelada, com as árvores balançando levemente ao sabor do vento, tem muitos e especiais encantos. Entre eles está a elegância das mulheres, que ficam mais belas quando se vestem e ainda mais sensuais quando se despem; o calor saboroso de um bom vinho tinto, sem excessos; o retorno festivo à infância das quermesses regadas a quentão, pinhão, correio elegante, quadrilhas e fogueiras. Só não gosto dos balões, pois a beleza das formas e a sensação de liberdade que iluminam não compensam o risco de seu pouso incerto e potencialmente destrutivo.

Ah, o inverno! Os abraços são mais longos e os beijos mais ardentes, se bem que o amor não escolhe tempo, hora, lugar ou paisagem: só precisa que "pinte um clima", que mesmo no frio aquece!

Inverno: época em que um café ou chocolate quente ajudam a suportar uma noite fria de trabalho ou de vigília; um cobertor ou edredom aquece o sono dos que amamos, o qual, em plena madrugada temos o cuidado de ajeitar com a preocupação do acalanto e como desculpa para um terno beijo no rosto ou na testa.

Mas, se o inverno pode inspirar romantismo, prazer e beleza, também torna a solidão, o abandono, a falta de um teto e a tristeza ainda mais dramáticos, doloridos e, até, fatais! É quando o espírito debilitado tende a transformar o álcool num agasalho ilusório, que entorpece a alma, mas não poupa o corpo.
Por isso o inverno também deve ser tempo de um tipo diferente de calor: o da solidariedade! Tempo de doação e de boa ação que, aliás, deveria valer para todo o ano.

E o inverno já chegou, depois das folhas mortas do outorno! Mas esse tempo não é - nem precisa ser - um inverno de amores, como o da canção de Prévert e Kosma, na voz solitária de Montand. É um prenúncio de renovação: mais uma estação no percurso da humanidade pelo mundo, rumo ao futuro e ao encontro de si própria! É um tempo de aproximação e reaproximação, onde o calor humano é tão imprescindível quanto o dos aquecedores e cobertores. É um tempo em que a maior distância do astro-rei precisa ser compensada pelo calor do sol que existe em cada um de nós!

É um tempo de folhas mortas, mas de corações ainda mais vivos!

Mais uma estrela!


Eu era muito, muito jovem quando o Santos conquistou seus dois primeiros títulos sulamericanos. Ouvi dizer que ele só não ganhou mais, nos anos de 1960, porque privilegiou excursões internacionais, muito mais lucrativas. Por conta disso, o Brasil ficou muitos anos sem comemorar uma Libertadores da América.

Vieram os anos de 1970 e, afora 1973 e 1978, não tivemos grandes comemorações. Depois, só 1984 e 1997 trouxeram algum alento.

É importante lembrar, no entanto, que o Alvinegro, time fora o eixo das grandes capitais, jogava contra adversários dentro e fora de campo, visíveis e invisíveis. Nem por isso deixou de escrever algumas das mais belas páginas do futebol nacional e mundial: “de um passado e um presente só de glórias”, como diz seu hino. Passado que transformou o Brasil em potência mundial, iluminando de vez o breu do fracasso de 1950. Passado que transformava os gramados em espelhos de noites límpidas, pois havia tantas estrelas no céu como na terra, das quais a mais brilhante é Pelé. Também havia os cometas, como os petardos fulminantes do querido Pepe, o “Canhão da Vila”.
Quiseram tirar o brilho do Santos! Disseram que ele havia acabado; virado um “timinho”. Esqueceram tudo de bom que ele representara para o futebol brasileiro...

Bem, não dá para ganhar sempre! Mas, mesmo quando o Alvinegro parecia reencontrar a “estrada do paraíso”, como em 1983 e 1995, um “coro” invisível gritava: “Já chega!”, frustrando as expectativas de quem, de fato, estava mal-acostumado, apesar de todo merecimento demonstrado em campo. Isso não bastava!

Aí chegou o século XXI:
Em 2003, chegamos muito perto, mas perder a final não nos tirou o brilho, reencontrado com a geração de Robinho e Diego. Além disso, depois de anos de injustiça, o Santos foi reconhecido como legítimo octacampeão brasileiro!
O Alvinegro voltou a ganhar títulos importantes, merecidos! Voltou a revelar bons jogadores, muitos ótimos! Passou a ter “banco”!

É verdade que a emoção voltou aos corações santistas, às vezes desnecessariamente, outras, excessivamente... Mas a “estrela” do Santos voltou a brilhar, provando que sempre esteve lá: temporariamente oculta por tempos nebulosos.

No entanto, apesar da miríade de títulos conquistados, sua camisa mostrava apenas duas estrelas, cujo brilho, embora resplandecente, era de outros tempos: daqueles que eu ainda era muito jovem para ter noção. Alguns adversários passaram a desprezá-las, quem sabe por não terem nenhuma...
Mas elas voltaram a brilhar intensamente numa quarta-feira, num palco do povo: o Pacaembu, que um dia alguém ousou dizer que deveria ser de um só. De fato ele o é: mas só do futebol!

E veio a terceira estrela: a estrela da superação! A estrela de redenção! Mais uma, supernova, da constelação alvinegra! E essa eu pude curtir em plenitude, a plenos pulmões!
“Soy loco por tri América!”.
Valeu Santos FC! Já temos crédito de sobra para comemorar os Cem Anos, em 2012!