quarta-feira, 1 de agosto de 2012

ACIMA DE PRECONCEITOS


ACIMA DE PRECONCEITOS

O preconceito normalmente é interpretado no sentido negativo.
Preconceitos raciais, étnicos, ideológicos, de gênero, religiosos, sociais e outros, quase sempre estão associados aos interesses de manutenção de poder de uma classe dominante, "classificadora", que atribui rótulos para impor total controle sobre a vida das pessoas, doutrinadas desde a infância. Algumas até se atribuem designação "divina", para dominar, mantendo a ordem social de "seus" grupos.
Não importa o motivo, isso tende a virar cultura que, quanto mais fechada, mais estipulará preconceitos e discriminará o que for diferente, limitando a evolução pessoal, desperdiçando potenciais ou tirando proveito doloso das restrições impostas.
Essa é, normalmente, a visão que temos do preconceito, e muitos se valem dela, em nome de sua superação. O que é motivo de restrição, em alguns casos virou vantagem a priori, a título de "reparação", independentemente de mérito.
No entanto, mesmo antes do estabelecimento desse modelo de combater "fogo com fogo", sempre houve interpretação e aproveitamento "positivos" de certos preconceitos. Isso vale, inclusive, para o discriminado. Tanto que tem gente que contrata pessoas em função de crença, raça, opção sexual e outros fatores, por acreditarem que esse preconceito garante bons resultados.
Bem, certos preconceitos via de regra vêm associados a estereótipos comportamentais, ou seja, aparências.
Dependendo do grau de hipocrisia da sociedade, alguns indivíduos passam a "interpretar papéis", para atuar em certas áreas. Ou seja, assumem o preconceito, com todos os seus estereótipos. E se assim não fizerem, poderão ser discriminados pelos discriminados. Há, ainda, os que o fazem para tirar proveito dos preconceituosos. Lembram do filme Shampoo (1975)?
Pois é...
Leis podem punir atos preconceituosos ou, até, "reparar" erros ou crimes cometidos por outras gerações. Mas, como eliminar, de fato, os preconceitos de todas as culturas?
Creio que somente pelo cultivo da noção de igualdade e do respeito às diferenças individuais.
É óbvio que classificar e "enquadrar" pessoas desde a infância é um eficiente meio de manutenção da supremacia das elites. Isso vale desde o início da humanidade, passando pelo estabelecimento de castas, alegação de "designação divina" da realeza, lideranças carismáticas, perseguições estúpidas, tudo o que transformou os seres humanos em mercadoria.
Passados milhares de anos, hoje somos a soma de todas as virtudes e defeitos das civilizações, algumas mais ou menos evoluídas, todas com seus preconceitos internos e externos, antigos ou novos, mas sempre convenientes para poucos.
Seria utopia acreditar que, por iniciativa própria, um dia veremos as pessoas serem apenas o que são, livres de preconceitos e com oportunidades iguais para desenvolverem suas aptidões, exclusivamente por mérito? Ou continuaremos a ser eternos escravos de preconceitos: alienados, hipócritas ou tirando proveito conveniente deles?

Ideal Olímpico



As Olimpíadas da Antiguidade eram um festival religioso e atlético restrito ao mundo helênico, cuja cultura, a exemplo de suas contemporâneas, louvava deuses e fazia do esporte uma celebração dos mortais.
Sua realização implicava suspensão de conflitos, para garantir a participação segura de atletas e torcedores de outras regiões.

Os vencedores eram celebrados, em prosa e verso, como heróis de suas cidades.
Era uma celebração, sim, mas também uma forma demonstração de poder, tanto que era vedada a participação de escravos e mulheres. Curiosamente, isso não impedia os gregos de cultuarem deusas, inclusive Atena, considerada deusa da sabedoria.

Esses jogos pagãos foram suspensos com o advento do cristianismo, embora vários sincretismos tenham sido bem aceitos, em nome da expansão religiosa. No entanto, na Idade Média era comum a ocorrência de torneios em que campeões dos reis definiam disputas territoriais e de honra numa "justa", sem derramar sangue de inocentes.

Quando Pierre de Coubertin propôs a reinstituição dos Jogos Olímpicos, de forma ampla e laica, visava à aproximação entre os povos. Ainda era uma competição física, de força e sentidos. Porém, abria espaço para a superação também das diferenças culturais, o que continua a não interessar a alguns, pois mentes abertas são mais difíceis de controlar. Prova disso é que, até recentemente, algumas religiões desprezavam competições esportivas, até perceberem que isso estava afastando seu rebanho mais jovem. Pois é, em nome da expansão, agora os esportistas são seus divulgadores...

Só que ainda há religiões que impedem a participação de mulheres em competições, ou criam tantas restrições, que limitam seu desempenho atlético e psicológico. Porém, nada têm contra lutas e tiro a qualquer coisa, fora do ambiente esportivo...

Apesar desses anacronismos e novos sincretismos, o ideal da competição leal e superação esteve presente até em Berlin, 1936, pena que restrito a atletas. Infelizmente, não repetimos a sapiência grega durante as Guerras Mundiais, quando as Olimpíadas foram suspensas. Ela também fez "forfait" na Guerra Fria, substituída pela de "dopings", atentados e boicotes.
Hoje, as Olimpíadas são o evento mais democrático do mundo, embora ainda "contaminada" com questões alheias ao esporte.

Seus vencedores legítimos, têm sua imagem e conquistas lucrativamente exploradas por patrocinadores, políticos e religiosos. Isso é contingência, pois hoje predomina o profissionalismo, ou seja a maioria absoluta do atletas se dedica exclusivamente ao esporte, mediante rígidos contratos.

O valor de suas conquistas, independentemente das paixões envolvidas, é relativo:
Eles provam que o ser humano pode ultrapassar limites com treino, disciplina e motivação. Alguns passam por imensas privações e desafios para suplantarem obstáculos no esporte e na vida. Porém, não salvam vidas; não constroem pontes; não mudam a mente dos poderosos... Isso é raro!

Consciente disso, confesso que torço incondicionalmente para os atletas brasileiros, e que tenho especial carinho pelos antes desconhecidos que superam a arrogância de favoritos; pelos que choram ao vencer; pelos que sorriem, mesmo ao perder, certos de que deram o melhor de si.

Nós, simples mortais, incógnitos amadores do esporte e da vida, podemos aprender com eles, que disciplina, consciência, ética e respeito ao próximo não têm limites; que mente sã num corpo são é a síntese que nos torna competidores de elite na maratona do viver, no revezamento da humanidade, cujos louros da vitória estão no empenho em passar o bastão de um mundo melhor para as futuras gerações!