Não me lembro dos primeiros filmes de Terrence Malick, nem soube de seu sumiço temporário, errático, das telonas.
Só vi seu retorno a
elas: “Além da Linha Vermelha” (The Thin
Red Line, EUA, 1998) em 2011 e, confesso, fiquei meio confuso com a
proposta desse filósofo formado com louvor em Harvard; quase doutor, em Oxford;
e que lecionou no MIT.
Porque esse sujeito
resolveu fazer cinema?
As imagens desse
filme de guerra são intensas, mas há alguns exageros - como as falas de Nick
Nolte - e situações sem sentido. Mas, a guerra não é assim?
Ao fim desse
primeiro contato com a obra deste cineasta, ao menos duas percepções emergiram:
Malick parece ser pessoa boa índole e com absolutamente nenhuma preocupação em
fazer cinema “comercial”. Ele quer fazer refletir, dialogar!
Isso, no entanto, nunca
impediu estrelas de “mergulharem” em seus roteiros e aceitarem seus convites.
Mesmo assim, fiquei
com “um pé atrás” quando anunciaram: “A Árvore da Vida” (The Tree of Life, EUA, 2011).
O título era
poderoso, assim como a sinopse e o elenco: Brad Pitt, Sean Penn...
Então, mais crítico
do que apreciador de Malick, por ainda não tê-lo decifrado, fui vê-lo, com meu
filho.
Antes da projeção,
ouvi pessoas cheias de expectativa, mencionando a “Palma de Ouro” recebida pelo
filme. Cético, aguardei que as imagens me convencessem de algo.
Quando o filme começou, aos poucos fui enfeitiçado pelas imagens e personagens, principalmente pelo Jack mais novo, interpretado por Hunter McCracken, extremamente natural e convincente, apesar da pouca idade.
Passei o filme todo
com um nó na garganta, indo e vindo no tempo da narrativa, vinculando mensagens
de uma sinceridade tão eloquente que transpunha a tela, como se o filme fora
uma espécie de 3D espiritual, a ser visto com as lentes da alma, questionando:
“Quando foi que perdemos a graça da vida?”.
Exagero meu?
Talvez... Filme autoral é assim: afeta as pessoas de diferentes formas, tanto
que, durante a projeção, era possível ouvir manifestações do tipo: “Quando o
filme vai começar?” ou “Palma de Ouro não quer dizer nada!”. Havia pessoas
indignadas, pedindo o dinheiro de volta!
Eu e meu filho, no
entanto, permanecíamos absortos.
Eu já estava
“rendido” ao enredo, mas, quando o filme terminou e ele perguntou minha
opinião, o pouco que havia sobrado do “terremoto” definitivamente “desabou”!
Levei alguns
minutos para me reconstruir, sob o olhar preocupado dele, que não entendia
muito bem o que estava acontecendo. De certa forma, nem eu...
Mais tarde, quando
consegui raciocinar sobre a obra, tive certeza de que, de fato, Terrence Malick
é instigante, dialético, ousado e visceralmente comprometido, quadro a quadro,
com suas crenças. Nada é à toa em seus filmes!
Como defini-lo,
então?
Conversando com meu
filho sobre isso, me veio à mente uma tola síntese: Malick é um filósofo da
imagem!
“A Árvore da Vida” levará
um Oscar?
Pouco importa. Vale
mesmo as “raízes” que ele deixou em cada um que o viu.