Na Antiguidade e até boa parte da Idade
Média não existiam países, mas cidades-estados, reinos e impérios, que
digladiavam entre si, em busca de matérias-primas, escravos, riquezas,
poder.
Nas guerras, as cidades vencidas eram
saqueadas e queimadas. Reinava a força das armas e do misticismo, a dominação
física e psicológica.
A consolidação das fronteiras geográficas
dos países atuais foi estabelecida pela diplomacia, pela ganância ou pela
violência, sendo que algumas ainda permanecem frágeis, por sua artificialidade,
ou separadas por “terras de ninguém”.
As crises econômicas e suas consequências
usuais – preconceitos, inclusos – transformaram essas fronteiras em perímetros
de tensão, com rígido controle para o acesso de imigrantes: rígido no concreto
dos muros, na ação de polícias e na definição de políticas. Assim, o mundo ainda
vive em meio a barreiras físicas e psicológicas, só que o poder econômico tende
a superar as guerras convencionais, embora elas ainda persistam,
convenientemente, sob forma de velado controle populacional ou descarado lucro
para traficantes de armas.
Mas, se os limites físicos impedem o ir e
vir entre nações, nem tudo acata essas regras territoriais: as alterações
climáticas, por exemplo.
E o que os países fazem para mitigá-las?
Bem, ainda pouco, talvez porque seus dirigentes estejam distantes do povo,
preocupados com macro-questões, se bem que os efeitos das alterações climáticas
também são globais.
Talvez em razão disso, algumas cidades
resolveram encarar a questão de forma direta, criando o C40 Cities Climate
Leadership Group, que congrega várias delas, com mais de 3 milhões de
habitantes ou cujas iniciativas sejam marcantes no âmbito da mitigação dos
efeitos das alterações climáticas. O Brasil é representado por São Paulo e
Curitiba.
Tive a oportunidade de participar do
C40 São Paulo Summit, onde pude conhecer mais a fundo as propostas e
iniciativas desse grupo. Ali, encontrei representantes de vários países, raças e
credos. Roupas e rostos exóticos coloriam as atividades desenvolvidas, que
incluíam apresentações de estudos e experiências no enfrentamento de problemas
que afligem a todos.
Prefeitos, políticos, cientistas,
técnicos, estudantes e público em geral ali estavam para se posicionarem,
consciente do desafio de equilibrar questões econômico-financeiras,
tecnológicas, sociais e ambientais na complexa equação da preservação do planeta
e da humanidade.
O mundo se reuniu sob forma de cidades,
para discutir: energias renováveis, destinação de resíduos, edifícios e cidades
inteligentes, cidades compactas e outras iniciativas ambientalmente
sustentáveis. Também vi sentados à mesma mesa, trocando experiências e
oferecendo auxílio técnico e financeiro, países que até bem pouco tempo se
engalfinhavam em guerras sangrentas. E os olhares eram amistosos, francos,
interessados e proativos!
É claro que existem interesses econômicos
envolvidos, mas as cidades parecem menos preocupadas com o que tem distanciado
países, e mais interessadas em resolver problemas e desafios comuns, em
parceria.
Quem sabe esse exemplo sensibilize os
dirigentes mundiais, para que também busquem diálogo e aproximação mais
objetivos e menos intransigentes, na busca de soluções para as macro-questões,
das quais as ambientais são inadiáveis, sob pena de comprometimento das futuras
gerações. Quem sabe assim, um dia, nossos filhos e netos conheçam um mundo onde
as fronteiras sejam apenas limites administrativos, e não mais barreiras de
intolerância.
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