Homem que é homem, não chora! Diz um estúpido e anacrônico ditado.
Estúpido porque associa o choro, abençoado mecanismo orgânico, bom na tristeza e na alegria, à fraqueza masculina, esquecendo que o problema nunca esteve no chorar, mas no motivo do choro. Talvez por terem sido doutrinados a não chorar, alguns homens tornaram-se tão insensíveis que perderam a noção de humanidade.
Esse ditado também é anacrônico, pois, ao qualificar sensibilidade como fraqueza é tão ultrapassado como outro: “honrar as calças que veste”. Se fosse assim, gregos, romanos, escoceses e todos os que usam túnicas seriam, por princípio, desonrados. E o que dizer dos indígenas, então? Hábitos mudam com o tempo e não fazem o monge...
Isso é coisa tão antiga como aquela história do “fio de bigode”; ou como outra que dizia que homem de verdade faz barba com navalha; ou que “macho” que é “macho” fuma cigarro sem filtro; ou que o capitão nunca abandona o navio, se bem que, nesse caso, os “ratos” continuam sendo os primeiros a abandoná-los: navio e capitão. Mera aparência!
Ainda há pessoas que se impressionam e se submetem a lideranças rudes e arrogantes, que seguem essas tradições estúpidas e anacrônicas, ou criam suas próprias. A maioria delas, aliás, é “para inglês ver”, criando uma aura de fortaleza para ocultar imensos vazios morais e espirituais. Muitas delas até se armam para defender ideais, às vezes mal entendidos ou aplicados, até porque ideais precisam de abstração antes de concretizar mudanças. E elas só são duradouras quando conscientemente aceitas, nunca quando são impostas, por mais heróica que seja a defesa do ideal!
Não é à toa que mudanças culturais demoram gerações! As que ocorreram abruptas, radicais que sucederam radicais, foram violências que o tempo se encarregou de revidar, pois o rancor permaneceu represado, a espera que o prato esfriasse para vir à tona.
As guerras, grandes ou pequenas, geram esse tipo também anacrônico e estúpido de rancor, ranço egoísta. Egoísta porque muitos dos que escolheram lutá-las, vitoriosos ou derrotados, insistem em creditarem-se lendas e viverem delas, quando apenas fizeram o que decidiram fazer!
Qualquer “guerra” só é justa quando constrói pontes onde havia muralhas! Quando toma as pedras do caminho e as usa para pavimentá-lo! Quando consegue transformar sociedades injustas em igualitárias sem derramar uma única gota de sangue, sem disparar um único tiro, sem perder uma única alma! E suas vitórias duradouras!
Apesar de todos os percalços e ranços político-ideológicos, a história recente da democracia brasileira vem buscando trilhar esses caminhos, e já chega a um quarto de século! E desde que foi restabelecida, junto com a liberdade de imprensa, vem demonstrando vigor, apesar de continuar cheia de humanos defeitos, que não a desabonam enquanto ideal.
Já elegemos e reelegemos presidentes de idades e formações acadêmicas diferentes, e o medo deixou de permear nossos atos, substituído pelo bom senso e pela vontade de conhecer cada vez mais profundamente essa milenar senhora chamada democracia.
E porque essa crença não vê limites anacrônicos, agora é a vez de uma senhora dirigir os destinos do Brasil! Senhora que, depois de demonstrar fortaleza para enfrentar e vencer três batalhas - doença e dois turnos -, em vez de vangloriar-se com suas certezas, verteu lágrimas de agradecimento e conclamou ao diálogo, em nome de algo muito maior do que o egoísmo e a vaidade de alguns: o Brasil!
Dilma Roussef será presidenta de todos os brasileiros pelos próximos quatro anos: sua próxima batalha!
Espero que ela não siga nenhum dos ditados anacrônicos e estúpidos que mencionei não apenas por ser mulher, mas principalmente por ser mulher!
Que ela governe com razão e sensibilidade; que erre o mínimo possível, mas que saiba reconhecer seus erros e compartilhar seus acertos; que torne nosso país forte e autônomo, embora nunca arrogante; e que saiba ouvir todos os reclamos e conselhos, de onde quer que surjam, mas principalmente os que vêm diretamente do povo, pois é somente a ele que ela deve se reportar e servir!
Adilson Luiz Gonçalves
Mestre em Educação
Escritor, Engenheiro, Professor Universitário e Compositor
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