segunda-feira, 26 de abril de 2010

Que Jogo!


Poucas vezes vi um campeonato ter uma final com dois times tão bem qualificados na tabela e nas quatro linhas do campo, dentro e fora desse retângulo, aliás.
Quase não deu para respirar!
Com todo “ôba-ôba” que tentaram fazer em cima da garotada do Santos, com essa história do “já ganhou”, eu francamente temia por uma quebra no ritmo alucinante que o Time da Vila vinha mantendo. Afinal, final é final desde que o mundo do futebol é mundo!

O Santo André não tinha nada a perder e, por isso mesmo – e brilhantemente – foi para cima do Alvinegro, com um time altamente eficiente e vibrante. Para piorar, Neymar, com o tornozelo e o olho machucados, não conseguia render quase nada.

Sair de campo perdendo por 1 x 0 foi lucro para o Santos, pois poderia ter levado mais gols, tanta foi a pressão do time do ABC.
Mas, se o técnico do Santo André havia montado um esquema de jogo “redondinho” e dado um semi-baile no Santos, o intervalo serviu para mostrar que Dorival Júnior tem o time na mão. Eu não queria ser uma “mosquinha” para ter estado no vestiário do Alvinegro, pois, provavelmente, teria sido mais uma vítima da fantástica bronca que ele deve ter dado no time.

Resultado: o Santos FC voltou arrasador na segunda etapa, com André e, fundamentalmente, Wesley protagonizando um “senhora virada”, daquelas de fazer amplamente jus à fama recente conquistada por esse time que tem encantado até os mais viscerais e obstinados adversários.
Parecia que assistiríamos mais uma goleada histórica, ainda mais quando um jogador do Santo André foi justamente expulso, pois já tinha um cartão amarelo e “gravata” não faz parte do uniforme de nenhum time de futebol. No entanto, o Santo André foi para cima, mostrando um brio difícil de encontrar até nos mais tradicionais clubes brasileiros.

Final: 2 x 3! E não deu para relaxar nem um segundo, nesta que foi uma das melhores partidas, não só deste Campeonato Paulista, como dos últimos tempos desse torneio tão desdenhado por uns, mas que nunca perdeu seu encanto, tanto que a “dor de cotovelo” está por aí, mais forte do que nunca.
Nada está definido, embora o Santos tenha ampliado ainda mais sua já boa vantagem, mostrando que, além de competência técnica e tática, também está crescendo em maturidade. O choro de Wesley, que está fora da última partida, é prova desse espírito que inunda o time do Peixe. E é nesse “mar” de bola o elenco tem nadado de braçada.

Mas o Santo André provou mais uma vez ser um adversário de altíssimo nível: técnico, aplicado, corajoso e incansável.

Assim, novas e grandes emoções nos aguardam na derradeira partida, no gramado e nas arquibancadas, como a maravilhosa homenagem da torcida santista aos grandes craques do passado.
Esse time tem: passado, presente e futuro!
Aguenta coração!

Adilson Luiz Gonçalves
Mestre em Educação
Escritor, Engenheiro, Professor Universitário e Compositor
Ouça textos do autor em: www.carosouvintes.org.br (Rádio Ativa)

terça-feira, 20 de abril de 2010

TIME PEQUENO



É curioso como alguns dos adversários do Santos FC gostam de tratá-lo de time pequeno:
Uns diziam ? alguns desinformados ainda dizem - que ele vivia de passado; outros que ele, antes da Era Pelé, só havia conquistado dois míseros títulos estaduais, o que é inegável; outros, ainda, o chamavam de asilo, pois estava se especializando em contratar atletas machucados ou em fim de carreira, além de acusá-lo de tremer em decisões.
Provocações fazem parte do mundo do futebol e são recíprocas e sazonais, mas é preciso contextualizar alguns fatos, para melhor entendê-los:
De fato, o Santos só havia conquistado dois títulos (1935 e 1955) antes do jovem Gasolina, depois Pelé, transformar a Vila Belmiro num templo mundial do futebol. Antes dele, no entanto, já haviam passado pelo Santos FC, principal time de uma cidade com, então, menos de 200 mil habitantes, e que não é capital, vários craques, como: Feitiço, Araken e Ary Patuska, Antoninho, Odair, Vasconcellos, Del Vecchio e Pagão, para citar alguns exemplos.
Esse time pequeno cede jogadores para a Seleção Brasileira desde a primeira Copa do Mundo, de 1930, quando Araken Patuska defendeu as cores brasileiras.
Em 1958, o time cedeu três atletas para a Seleção, inclusive certo menino de dezessete anos... A partir daquele ano, o Brasil parou de tremer internacionalmente! Em 1962 foram sete, com o capitão Mauro erguendo a taça. Em 1970, foram cinco, com o capitão Carlos Alberto ostentando o caneco. Em suma, o Santos FC, time pequeno, não teve nenhuma participação na ascensão do futebol brasileiro ao olimpo mundial...
Esse time pequeno também foi o primeiro brasileiro a conquistar as Taças: Libertadores da América e Mundial Interclubes, sem tremer, e o fez logo duas vezes seguidas.
Finda a Era Pelé, o asilo santista contribuiu para o futebol brasileiro com três gerações de jovens atletas, que brilharam nos campos nacionais e internacionais: as de Pita e Juary, Robinho e Diego e, agora, a de Neymar e Ganso. Pratas de casa!
Time que vive do passado, ter passado quase em branco a década de 1990, apenas com dois títulos de relativa expressão (Rio-São Paulo e Conmebol), e apesar da imensa injustiça de 1995, o Santos abocanhou dois campeonatos nacionais e dois paulistas na década de 2000. Esse time pequeno... Com isso, em tempos em que todos os títulos estão sendo reconhecidos, o Santos faz mais do que jus ao de octacampeão brasileiro, merecendo a tal Taça das Bolinhas com maior propriedade.
Muito do sucesso dos Santos FC talvez se deva a sua cidade sede, de mesmo nome: praiana, aprazível, hospitaleira, cosmopolita e histórica.
Ressalvas sempre existirão, pois todos os times têm seus altos e baixos. Mas, se há algo a lamentar na história do Santos FC é que ele nunca tenha proporcionado melhores instalações para seu quadro associativo. No âmbito esportivo, no entanto, nunca deixou de obter destaque, inclusive em outros esportes (vôlei, tênis de mesa, futsal, etc.).
Para quem acha que o Alvinegro da Vila Belmiro é um time pequeno, veja na mesma proporção o que o seu time grande, de capital e capital, já conquistou. Para quem diz que o Santos treme, modifique um pouco a frase, e reconheça que, por todo seu passado e presente, ele é um tremendo time. Por fim, para quem o acusa de asilo, creio que ele está muito mais para berçário... E que berçário!

Adilson Luiz Gonçalves
Mestre em Educação
Escritor, Engenheiro, Professor Universitário e Compositor
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sexta-feira, 16 de abril de 2010

Por que Poesia?

Às vezes a gente pensa que não tem mais nada, mesmo acreditando ter tudo!

A riqueza e a pobreza parecem iguais quando olhamos o caminho percorrido até atingi-las. Quase sempre houve a renúncia do belo, o abandono da alma e perda do real sentido da vida. Conquistas e deserções absolutas fazem parte do paradoxo de um mundo cada vez mais regido por valores distorcidos, que desprezam os sentidos e sentimentos em nome de metas e aparências. Progressivamente, a humanidade vai perdendo sua aura de divindade e sua capacidade de abstrair. O ser humano é encarado como uma mera e substituível peça de um mecanismo de resultados físicos, frios e distantes. Pior: aceita essa condição e ainda busca superar esse plano traçado a sua revelia!

Escravidão consentida! Vida sem poesia!

Os atos mais simples deixaram se ser naturais e gratuitos... Há sempre uma segunda intenção, vil.
A inteligência e a racionalidade são exaltadas como principais virtudes humanas. As pessoas são avaliadas, graduadas, selecionadas, consumidas ou descartadas por critérios científicos e herméticos, num processo que lembra ora eugenia ora uma linha de montagem cibernética. Mas não é a capacidade de sonhar e de ver além das imagens que nos torna especiais? Não é a possibilidade de escolher caminhos que nos faz diferentes? Não é essa diversidade a razão poética do fascínio da humanidade?

Estamos trocando tudo isso por um adestramento coletivo tendo como contraponto, único, a rejeição explosiva e inócua. A intuição cede espaço ao condicionamento ou ao caos existencial. O ser humano germina, mas não frutifica!
Onde estão as metáforas? Onde estão a comunhão de almas e a sublimação da vida? Onde está a beleza explícita ou implícita dos gestos, das palavras e dos pensamentos?

Parece que estamos sendo conduzidos, inconscientemente, à negação da humanidade, em tempos difíceis ou não. Mas mesmo atingida essa sarjeta, virtual ou real, sempre será possível resgatar nossa natureza, bela e divina, pois ao revirar esse lixo existencial nada impede que encontremos uma rosa vermelha! Quem sabe nos lembremos de um jardim... Talvez de um amor sincero... Ou seus espinhos, numa distração do destino, façam aflorar nosso sangue e lembrem que a vida flui em nós com a métrica do coração, e que temos uma mente, milagre supremo da Criação, capaz de duvidar, imaginar e entender o universo, em prosa e verso! Assim, talvez tomemos essa rosa, a coloquemos na lapela e então, despertos e iluminados - como um cego que recobra o sentido da visão -, passemos a enxergar, com um sorriso na alma, a beleza, a esperança e a poesia que a cegueira de espírito ocultava.

Saibam que, mesmo na indigência, do ser ou do ter, não há rima pobre! Todos os sonhos e pensamentos vertidos em palavras são livres, preciosos e indispensáveis à vida! Todos carregam emoções e verdades capazes de, no momento certo e preciso, alegrar ou consolar, derrubar muros ou construir ideais! Com tal poder transformador, mesmo um poema gratuito não tem preço! Como pode haver pobreza para quem distribui tal riqueza?

Todos somos livres, ricos e poetas! Essa é a nossa condição fundamental!
Por que, então, poesia em tempos de indigência? Porque até as preces de aflitos, esperançosos e agradecidos são feitas em verso! Porque as epopéias que falam da superação de adversidades são descritas em verso! Porque mesmo o rigor de um dogma e a arrogância dos poderosos não resiste e cede passagem à ousadia de uma licença poética! Porque a razão nos guia no solo firme, mas é a poesia que nos faz voar e ver além da escuridão ou da linha do horizonte!

Em suma, porque a poesia precisa existir em qualquer tempo!

Adilson Luiz Gonçalves
Mestre em Educação
Escritor, Engenheiro, Professor Universitário e Compositor
Ouça as crônicas do autor no www.carosouvintes.org.br