terça-feira, 27 de setembro de 2011

ANJOS E DEMÔNIOS



Não, este texto nada tem a ver com o livro de Dan Brown! Mas tem muito com o cotidiano, com a vida que tentamos construir e levar, como os sonhos e pesadelos que sonhamos ou nos fazem sonhar, dormindo ou acordados.
Todo dia saímos à rua, para buscar o futuro, esquecer o passado – corrigir seus erros, se possível – ou, simplesmente, viver o presente. É a uma etapa em nossa jornada que, sabemos, tem começo, meio e fim, e na qual tentamos contribuir com alguma coisa, e não ser apenas espectadores passivos ou massa de manobra dos desejos alheios.
Não é fácil viver, por mais que nos esforcemos para tanto. Queremos apenas plantar e colher o fruto de nosso trabalho, regado com nossa esperança. Estudamos, aprendemos e nos aplicamos para isso, acreditando que crer é suficiente, mesmo sabendo que nossos esforços nem sempre bastam para enfrentar as forças adversas, muitas delas invisíveis, que se apresentam no caminho.
Qual seria o sentido da vida se não acreditássemos nisso? O que nos restaria de humano e divino se simplesmente aceitássemos seguir sem ter nenhum controle sobre o rumo?
Com tantas interferências, nossa caminhada pode estar cheia de perigos e ameaças, nem sempre identificáveis, e que às vezes vêm de onde menos ou nunca se espera!
Como as incertezas podem ser bem maiores do que as certezas, pedimos, rezamos e oramos por proteção divina, para que sejamos livres de todos os males. E mesmo quem não pede esse tipo de proteção já deve ter sentido que teve algum tipo de proteção, ou que sofreu algum mal cujo motivo era inexplicável.
Crendo ou não, há muito mais coisas entre o céu e a terra do que pode imaginar nossa vã filosofia, já dizia Shakespeare. Isso vale para a Dinamarca, como para qualquer ambiente: escola, trabalho, grupo social, etc.
De onde vem o divino bem que nos protege do mal que não vemos? De Deus, sem dúvida! Mas Ele tem seus anjos, alguns dos quais conhecidos como anjos da guarda. Muitas vezes eles são de carne e osso e exercem o bem ao evitarem que um mal seja perpetrado contra inocentes, sem que eles saibam quem o articulara. Sua bondade é tão grande que também alivia o ônus moral e espiritual do maldoso, embora a maioria destes seja imoral e alguns até se usem o nome de Deus para legitimarem suas maldades físicas ou psicológicas.
Esses últimos são os demônios de plantão, em grande parte também humanos, ao menos na forma orgânica. Eles não precisam possuir corpos para lhes fazerem mal: basta terem poder externo sobre suas vidas. E o poder nas mãos erradas, sejam elas: incompetentes, temerárias, orgulhosas, desmioladas ou sádicas pode gerar muito mal, às vezes travestido de boas intenções, daquelas de que o inferno está cheio, junto com os bem-intencionados que as tiveram.
Esses anjos da guarda e demônios de plantão estão em toda parte, travando uma luta diária por nossas almas: os primeiros sem nada pedir, os últimos tirando tudo o que podem, mesmo que não precisem. Uns zelando por nosso bem, outros perseguindo e destruindo, por estupidez ou prazer, transferindo suas culpas, erros e baixeza para o objeto de sua maldade e ainda alardeando que estão pensando num bem maior.
Hitler e Stálin provavelmente pensavam assim...
A nós, pobres mortais, resta continuar acreditando que podemos, com fé em Deus, remover os obstáculos que os demônios de plantão, infelizmente cada vez mais poderosos, motivados, dissimulados e bem organizados nos impõem; e agradecer a doce atenção e perseverança obstinada dos anjos da guarda que, contra todas as tendências e facilidades oferecidas pelo mal, persistem em nos proteger.
Que Deus os abençoe! E a nós também.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Ler para crer


A Bíblia tem uma de suas mais belas passagens, quando Cristo exalta os que crerão em seus ensinamentos sem tê-los ouvido, diretamente, ou visto seus milagres e prodígios!
Seus discípulos foram os primeiros encarregados de divulgar sua mensagem pelo mundo de então, inicialmente de forma oral; depois, por epístolas e, finalmente, pelos primeiros evangelhos, que em verdade foram segundos (segundo Marcos, segundo Lucas, segundo Mateus e segundo João) e, assim, puderam chegar às mãos de terceiros.

Pelo prelo da imprensa de Gutenberg, os livros, que antes dependiam do artesanato e paciência de escribas e copistas (e por isso eram restritos à elite) caíram nos braços do povo. Mais recentemente, as impressoras rotativas reduziram ainda mais seu custo; e televisão e internet permitiram acesso imediato e relativamente barato a uma infinidade de textos e imagens.

O problema é que as imagens ganham cada vez mais espaço, num retrocesso preocupante, pois seu uso em excesso tende a limitar a imaginação.
Um rápido "passeio" pelo processo de aprendizagem lembrará que os primeiros livros só tinham imagens; depois, vieram os com enormes figuras e pequenos parágrafos; em seguida, veio o equilíbrio entre imagens e textos; depois, sequências de páginas escritas eram eventualmente entremeadas por uma ou mais figuras elucidativas, até, por fim, atingirmos o ápice: os livros só de textos! Estes, por mais sem graça que possam parecer a alguns, trazem múltiplas “imagens” e sentidos, que só podem ser revelados pela nossa imaginação. Talvez por isso, quem "lê o livro" quase sempre acha as adaptações cinematográficas e teatrais inferiores.

As imagens que um texto bem escrito "materializa" em nossas mentes são nossas, e não a visão de um artista, diretor ou produtor. Quando as imaginamos, nós somos o artista! Ou seja, a criatividade é nossa, embora a idéia seja do autor.
É certo que nem todos os livros podem prescindir de imagens, como os sobre arte, turismo e tecnologia, entre outros. Mas, nem sempre elas revelam as opiniões do autor. Assim, a formação da nossa opinião também fica limitada às aparências.

Sempre ouvi falar que um gesto – uma imagem, portanto - diz mais do que mil palavras! Mas isso não se aplica à literatura, ou, melhor, se aplica de outras formas, como:
Dar um livro; abrir um livro; ir a uma biblioteca ou livraria e, principalmente, tornar isso um hábito de pais para filhos, sem a arrogância inócua dos pseudocultos, que podem saber muito para si, mas nada acrescentam de bom ou útil ao meio em que vivem.

Então, ler é um momento de aquisição de conhecimento, de introspecção analítica, de reação convicta, de deleite frugal, de visita ao conhecido, de viagem ao desconhecido... É um voar, um navegar, um correr ou parar! Mas, lemos tão pouco e às vezes tão mal... Muitos até desistem de ler, talvez por medo de pensar. Outros só lêem o que lhes é permitido, pois o espírito crítico que se adquire com a leitura não interessa aos que querem pensar por nós, para nos conduzir segundo seus interesses. Para piorar, quem lê pouco tende a escrever mal e ter dificuldade para entender documentos, etc. Assim, torna-se vítima passiva das más-intenções de outrem e da própria ignorância. Isso pode ser uma opção pessoal, mas também pode ser um projeto de poder político, econômico ou religioso.

Os pais e a escola são fundamentais para a reversão desse processo, pelo incentivo à leitura desde a infância. Mas é preciso fomentar essa prática de forma objetiva, prazerosa e, fundamentalmente, consciente e crítica. Senão, em vez de despertar grandes paixões, poderemos ter o início de grandes e duradouras aversões à leitura.
Ler é muito bom! Mas, para saber disso é preciso ler para crer. E quem ler verá!