quinta-feira, 11 de novembro de 2010

DE ARTISTA E DE LOUCO

De médico e de louco todo mundo tem um pouco!

Esta expressão está associada à obra de Stevenson, "O Estranho Caso do Dr. Jekyll e Mr. Hyde", que ganhou notoriedade ainda maior quando uma adaptação do cinema mudo escolheu como título "O Médico e o Monstro".


No livro, o cientista criou uma fórmula para separar a razão do instinto, mas, em nome da dramaticidade, associou essa irracionalidade à amoralidade. Assim, esse passou a ser o imaginário da loucura. E os loucos em geral, muitos deles frutos do excesso de racionalidade ou da ação de outros "loucos", passaram a ter um único destino: o hospício! E muitos manicômios ficaram famosos em função disso: "Ficou Pinel!", "Teu lugar é no Juqueri". Até música fizeram: "Brrrrum! Preciso me cuidar, senão eu vou pra Jacarepaguá!". E muitos "loucos" passaram a ser classificados por conveniência:

Rebeldia virou loucura! Protestar contra poderosos também, afinal: "Manda quem pode. Obedece quem tem juízo. "Acesso de loucura" virou atenuante para crimes premeditados, mas ser "louco" também virou desculpa para afastar pessoas "indesejáveis" do convívio social, ou para atenuar os excessos das classes dominantes: "Pobre é louco. Rico é excêntrico". No entanto, o médico Simão Bacamarte, da obra "O Alienista", de Machado de Assis, ao perceber que quatro quintos da cidade eram internos em seu hospício, resolveu soltar todos e trancafiar os considerados "sãos"...

O fato é que, até bem pouco tempo, qualquer distúrbio ou limitação mental, sobretudo nas classes menos favorecidas, tinha como destino certo o manicômio, com direito a procedimentos que, em outras circunstâncias, seriam considerados tortura, desumanidade!


Então, recentemente, fui encarregado da programação de palestras do Rotary Club de Santos-Porto...

Pensei logo em convidar o Arte-Educador Renato di Renzo, que em 1989 revolucionou o Brasil com suas experiências no Hospital Anchieta, criando o Projeto "TAMTAM" (o tambor africano!).


Pensei que seria difícil, mas ele prontamente aceitou o convite, já escolhendo o tema: "TAMTAM: Saúde Mental, Arte e Cidadania".

No dia, ele dispunha de apenas 15 minutos para sua apresentação... Poderia ter falado por horas!

Santista nato, ele confessou estar muito feliz em ali estar porque, passados mais de 20 anos da ação no Anchieta, tornada referência mundial, poucas vezes fora convidado a falar sobre seus projetos em sua cidade natal.


Depois, falou apaixonadamente sobre seus conceitos e crenças, lembrando que a loucura nada mais é do que uma paixão desenfreada, daquelas que quase todos já tivemos; instantes em que convenções perdem seu poder limitador, abrindo espaço para os instintos, quando a criatividade humana atinge seu ápice e a arte se manifesta em estado puro.


Sua proposta no Projeto TAMTAM, hoje transformado em ONG, é de usar manifestações artísticas, que tem seu quê de loucura em relação à realidade, como ponte terapêutica para fazer o caminho inverso, melhorando a qualidade de vida de milhares de pessoas, reintegrando-as à sociedade.

A repercussão dessa proposta foi tão significativa que fundamentou a lei antimanicomial em vigor!

Concluiu com sincera emoção, relatando seus outros projetos de arte-educação e resgate de cidadania, como o "E aí, beleza?", que já levou ao palco do Teatro Coliseu gente que revelou jamais ter sonhado sequer passar diante dele, quanto mais nele atuar. Inclusão social!


Que belo trabalho, Renato! Que doida e contagiante paixão essa de ser louco por arte, pela arte e destarte transformar loucura em arte, auxiliando na cura, sem descartar, isolar ou continuamente dopar seres humanos!

Você mais do que nos provou que de médico, de artista e de louco todos precisamos ter um pouco!

 

Adilson Luiz Gonçalves

Mestre em Educação

Escritor, Engenheiro, Professor Universitário e Compositor

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

De quatro em quatro...

Recentemente, em conversa com um comandante militar, ouvi dele que nos próximos cinco anos o Brasil tornar-se-á, sem maiores esforços, a quinta economia global.






Tudo leva a crer que ele não está enganado, ainda mais depois da descoberta das reservas de gás e petróleo do “pré-sal”. Por analogia, o país seguiria, no âmbito nacional, caminho semelhante ao da Petrobras, como empresa.






No caso do Brasil, essa previsão de que tal evolução independeria de ações estratégicas, ou seja, seria quase que decorrência de inércia física, levou-me a perguntar: “E se houver iniciativas?”, e ouvir a resposta já esperada: “Imagine, então!”.






Essa euforia permeou e ainda permeia boa parte dos discursos eleitorais, reduzindo ainda mais o espaço para ideologias radicais, tanto que se fala mais em socializar a pobreza, mas em transformar o Brasil num país de classe média! Viva!






Mas meu maior temor, em meio a real expectativa de desenvolvimento que se afigura para o Brasil, não está na capacidade do povo brasileiro de se adaptar às demandas futuras, presentes ou em atraso. Anos de sofrimento tornaram nosso povo modelo de resiliência e superação. Já demos tanta volta por cima que estamos aptos e bem treinados para dar saltos ainda maiores, desde que nos dêem condições para tanto!






Mas nem tudo está em nossas mãos, pois, embora decidamos quem vai legislar e governar, não controlamos seus atos. Nosso voto simples vira “voto de qualidade” em suas mãos, mas não necessariamente para atender aos anseios do povo. Assim, minha maior preocupação não é com a capacidade de nosso país evoluir cientifica, tecnológica e economicamente, mas com a postura da maioria de nossos políticos no que se refere à evolução moral e ética.






Ninguém nega a importância do voto, obrigatório ou não! Mas qual a qualidade desse voto para o povo? Em que medida, de fato, ele vale para mudar algo que não está bom?






Até que ponto certas decisões podem ser tomadas sem um referendo popular? Por que não nos é dado definir algumas coisas de suma importância, como obrigar nossos legisladores ao voto sempre aberto, nominal, para que saibamos se eles cumprem seus votos eleitorais? Por que a transformação de territórios em estados e, depois, sua mutilação em reservas não pode ser definida em plebiscitos?






Mas só podemos apresentar projetos populares - o que dá um enorme trabalho! – ou votar. Mas tem quem vote “em branco” ou nulo, como forma de protesto ou por estar votando e andando para as eleições. Mas nem sempre quem vota num candidato o faz por opção: muitas vezes o faz por falta de opção.






Mas, o pior é que muitos políticos acreditam que os votos que os elegem lhes conferem “carta branca”, inclusive para esquecer promessas de campanha; mas nunca crêem que uma vitória apertada seja um “cartão amarelo” e uma derrota, um “cartão vermelho”. Outros, só pensam nas suas “bases” como suporte, em tempos de eleição, que logo após voltam a ser mero assoalho.






O Brasil vai “bombar”, sim! Mas o fará ainda mais se seu povo tiver cada vez melhores condições de estudo, saúde e trabalho. O céu será o limite, então, quando não precisar mais de assistencialismos e exceções para aprender a ultrapassar cada obstáculo que lhe for apresentado ou imposto apenas por sua competência, mérito e solidariedade!






No entanto, essa condição ideal depende de uma nova consciência nacional e de cidadania, que exige igual comprometimento de quem planeja e dirige o destino do país!






O povo brasileiro quer e merece mais! E nossos políticos têm que respeitar esse desejo, expresso pelo voto, mais do que suas “tradições”, “lealdades” e “ideologias”! Têm que ser ativos e diligentes na concretização desse auspicioso futuro, e não apenas nos quadrienais discursos requentados, deixando os eleitores de joelhos ou “de quatro” nesse entremeio.














Adilson Luiz Gonçalves



Mestre em Educação



Escritor, Engenheiro, Professor Universitário e Compositor






Ouça textos do autor em: www.carosouvintes.org.br (Rádio Ativa)






Leia outros textos do autor e baixe gratuitamente os livros digitais: Sobre Almas e Pilhas e Dest Arte em: www.algbr.hpg.com.br






Conheça as músicas do autor em: br.youtube.com/adilson59






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