sexta-feira, 26 de março de 2010

Recall: pior sem ele!

A recente onda de recalls de empresas montadoras do ramo automobilístico me fez lembrar do filme O Julgamento Final (Class Action, EUA, 1991).
No filme, um advogado, interpretado pelo magnífico Gene Hackman, aceita o caso de um homem que perdeu a família, os braços e as pernas num acidente automobilístico, e deseja acionar o fabricante do carro.

A causa, em princípio, poderia não ter maiores desdobramentos, mas as circunstâncias do acidente convenceram o advogado de que ali havia, literalmente, fumus boni iuris (fumaça do bom direito), pois, sem nenhum motivo aparente ou causa agravante, o carro se incendiara, sem dar chance de fuga aos seus ocupantes. Além disso, casos similares já haviam sido documentados sobre aquele mesmo modelo de veículo.
O maior problema do advogado, no entanto, estava no fato de sua filha atuar no escritório de advocacia que representava a montadora. A competentíssima jovem nutria terrível rancor pelo pai, que considerava culpado pela infelicidade e morte da mãe.

Isso, no entanto, não a impediu de perceber que havia, de fato, algo errado na postura do fabricante. Os depoimentos e laudos só contribuíram para aumentar sua desconfiança, o que a colocava constantemente em choque com questões de ética profissional.
Num determinado momento, após pressionar a empresa, esta esclareceu, a contragosto:
O modelo em questão era um sucesso de vendas, com dezenas de milhares de unidades vendidas ao longo de mais de dez anos, em várias versões. De fato, havia um problema no veículo, que só foi identificado depois de vários anos: um fio do sistema elétrico roçava no tanque de combustível e o atrito, como o tempo, desgastava o isolamento. Nestas condições, poderiam ocorrer faíscas elétricas, o que potencializava explosões e incêndios. O problema fora corrigido nos novos modelos.
Mas, e quanto aos anteriores?

O estarrecedor foi que, em resposta a esse questionamento, um dos executivos da empresa alegou que haviam pensado nisso, mas eram muitas unidades. Na época, eles fizeram um cálculo atuarial, para comparar os custos do recall, inclusive quanto a prejuízos de imagem que ele acarretaria, em relação a eventuais indenizações, em caso de sinistros. A conclusão foi de que, para a empresa, era preferível arcar com os custos das indenizações, caso perdessem as ações.
O filme teve um final feliz, o que nem sempre ocorre na vida real.
Transportando essa ficção para a realidade atual, a necessidade de recalls denota, sem dúvida, problemas de controle de qualidade nas linhas de produção, o que pode arranhar a imagem das empresas. O desconforto do proprietário também existe, pois ficará inseguro e isso talvez influencie sua tomada de decisão numa futura troca de veículo.

Mas, imaginem se não houvesse o recall, como no filme?
É certo que muitos deles ocorrem depois de acidentes que poderiam ser evitados, se o fabricante já tivesse conhecimento de anomalias. E é praticamente impossível que elas não ocorram em ao menos um lote dos milhares de componentes de um automóvel ou outro produto. Assumir publicamente uma falha e fazer um recall é, portanto, uma demonstração de preocupação com o consumidor. É óbvio que há prejuízos financeiros e de marketing, mas os patrimônios e vidas assim poupados são inestimáveis.
Fica daí, então, uma certeza quase proverbial:
Recall: ruim com ele, muito, muito pior sem ele!

 
Adilson Luiz Gonçalves
Mestre em Educação
Escritor, Engenheiro, Professor Universitário e Compositor

terça-feira, 2 de março de 2010

Tous Les Garçons...

Acabei de fazer cinquenta anos... E daí?




Daí que dizem que todos os “meninos” de minha idade ficam meio nostálgicos.




Em verdade, tenho pensado muito mais no futuro, para o qual tenho muitos planos, apesar de insistência de alguns em tentar frustrá-los. Mas, o gosto do fel a de fazer o mel parecer ainda mais doce.




Mesmo assim, não pude deixar de relembrar alguns períodos desse meu já longo percurso pela vida. De repente, me vieram à mente músicas que eu ouvia quando estudei na França, entre 1985 e 86. Aquele um ano de solidão teve no rádio um companheiro indispensável!




Lembrei de Alain Souchon, Daniel Balavoine, Etienne Daho, France Gall, Renaud e outros. Para não esquecer, até trouxe algumas fitas cassete (lembram delas?), mas vinte e tantos anos se encarregaram de detoná-las.




Felizmente, falem bem ou mal dele, hoje temos o Youtube, que nos permite viajar ao passado.






Nessa viagem virtual, voltei ainda mais no tempo e fui buscar vídeos dos anos de 1960, com Johnny Hallyday, Eddy Michel, Charles Aznavour, Jacques Brel... Essas lembranças trouxeram outras, da mesma época:






A TV de então exibia atrações francesas. Lembro de um show de Sacha Distel entre outros. Além disso, as rádios tocavam músicas em francês, italiano e espanhol, apesar do inglês já ensaiar monopólio de mercado. Havia maravilhosas opções culturais!






E por falar em maravilha, como esquecer Françoise Hardy?






Eu sempre considerei Carly Simon a melhor cantora romântica, mas ao “reler” Françoise percebi que não dá para eleger apenas uma. Sua voz era de uma sensualidade ingênua e sua beleza... Bem, o que dizer de sua beleza? Era de fazer hipnótico silêncio! Era tão bonita que deveria pagar imposto!






Numa época de penteados armados, cílios postiços enormes e maquiagem exagerada, Françoise Hardy exibia longos e lisos cabelos, que adornavam seu rosto angelical.






Ouvi seu primeiro sucesso: “Tous les garçons e les filles” (1962). Quase adormeci com “Le premier bonheur du jour” (1963). Depois, acordei e me diverti com o ritmo e a letra de “Comment te dire adieu?” (1968), com rimas em “ex”, inclusive “pyrex”. Um dos vídeos dessa música, aliás, mostrou-a ao lado de outra das mulheres mais belas de então: a inglesa Jane Birkin. Covardia!






Lembram que o Jornal Hoje, da Globo, encerrava com música, nos anos de 1970? Pois é, uma delas era “La question” (1971), composta pela brasileira Tuca, que tanta falta faz. Uma das mais belas canções românticas que conheço!






Por fim, matei a saudade da música que essa parisiense lançou quando eu morava na França, V.I.P. (1986).






Curioso, resolvi buscar informações atualizadas sobre essa musa de minha infância. Encontrei-a ainda bela, como se o tempo tivesse passado mais lentamente para ela. E continua a gravar!






Dizem que mesmo em tempos de guerra nascem preciosas flores... Françoise Hardy nasceu em 1944. Com certeza é uma delas!






Realmente, recordar é viver! Mais que isso, é um estímulo para continuar a sonhar, não importa a idade ou os contratempos da vida; para amar e ser amado, sempre pensando que: “Tous les garçons et les filles de mon âge font ensemble des projets d'avenir” (todos os meninos e meninas da minha idade fazem, juntos, projetos para o futuro). Tenho ainda muitos projetos com a minha amada, que sempre gosta quando sussurro em francês, ao pé do ouvido!






Viver também é, por princípio, nunca deixar de crer e amar!