segunda-feira, 30 de novembro de 2009

A difícil arte de escrever

Um dos principais diferenciais, em qualquer profissão, é a capacidade de escrever textos fluentes e objetivos.
O indivíduo pode ser extrovertido, carismático, ter um excelente “marketing” pessoal, mas se não souber transcrever suas ideias, o alcance das mesmas será limitado aos que o vêem ou ouvem.
Os antigos primeiro usaram a voz, depois desenharam, em seguida associaram sons a símbolos e, assim, surgiu a escrita. A “Babel” das distâncias fez surgir múltiplos idiomas. O estabelecimento de regras e a expansão das culturas os difundiram. Com isso, saber ler e escrever passou a ser imprescindível para a aprendizagem e o congraçamento entre os povos.
Mas, nesse universo da expressão, nem tudo é dito claramente, tanto que novos “dialetos” são criados a cada dia, com os mais diversos objetivos: no campo estratégico existe a criptografia; a Internet também tem os seus, corruptelas dos idiomas de cada país. Os sinais de fumaça e luz, os tambores, certos toques físicos também servem para comunicar. O código Morse, a Libras e o Braille também são exemplos elaborados e difusos de ferramentas de comunicação.
Para ter acesso a todo esse conhecimento acumulado pela civilização ou, simplesmente, para intercomunicar, basta ao indivíduo aprender esses códigos gráficos.
No caso idiomático e da formação básica em ciências, nos dias de hoje isso ocorre, normalmente, ao longo da formação acadêmica do indivíduo. No Brasil, isso inclui, basicamente, os Ensinos: Fundamental e Médio.
Na etapa seguinte, o Ensino Superior, espera-se que o aluno saiba expressar-se adequada e logicamente nas formas escrita e verbal, e que saiba ler e compreender um texto, para que seja dada continuidade à sua formação. Mas o que se vê frequentemente é uma sensível dificuldade nesses âmbitos. Os textos produzidos carecem de pontuação, as frases são desconexas, incoerentes; a grafia das palavras é incorreta, as expressões matemáticas são mal apresentadas, as unidades de medidas são incoerentes e por aí vai... As “pérolas” do ENEM nos fazem rir, mas são tristes sinais.
Será que não estão ensinando? Será que não estão aprendendo?
No entanto, os mesmos alunos que se expressam mal na linguagem formal são extremamente fluentes e objetivos nos “dialetos” verbais ou digitais. Nesse ambiente, eles lêem e escrevem com desenvoltura!
Qual o motivo, ou motivos, deles não o fazerem com a mesma desenvoltura na linguagem formal?
A postura do professor, nesse sentido, é fundamental!
Inicialmente, é preciso realizar que saber muito não implica ensinar bem, e que comportamento arrogante, esnobe ou extremamente rigoroso, tende a criar barreiras, em vez de ajudar a transpô-las.
O grande desafio dos professores talvez esteja não em ensinar os currículos, mas em fazê-lo de forma dinâmica e prazerosa. Os contextos devem ser considerados, a aprendizagem deve ter sentido, opções devem ser apresentadas e o professor deve ser qual uma ponte. Além disso, ele deve estar disposto a ensinar, mas, igualmente, a aprender, inclusive com suas próprias experiências e dos alunos!
O incentivo à leitura é outro caminho, pois a leitura de bons textos contribui para fixação de formas adequadas de expressão escrita. A produção individual e coletiva de textos, manuscrita e em meio digital, também é útil. Mas existem os currículos e as leituras obrigatórias...
Como conciliar o exigido e o prazeroso? Bem, esse é o desafio do professor. Mas ele não pode nem deve estar estático ou sozinho nesse processo.
A criatividade, a reflexão e a formação continuada sempre devem estar presentes. Afinal, quem ensina não pode ter medo de aprender.
O governo e a sociedade devem estar atentos a esse processo, fundamental para assegurar o desenvolvimento nacional. Isso inclui não apenas a questão das políticas educacionais e a participação ativa dos pais, mas, também, especial atenção com o que os meios de comunicação oferecem.
Não se trata de censurar músicas e programas de baixa qualidade ou gosto duvidoso, mas de oferecer opções culturais em larga escala, para todas as faixas etárias, pois a aprendizagem acontece de forma contínua, não apenas no âmbito acadêmico.
As questões da saúde e da segurança, dentro e fora das escolas, também precisam ser tratadas de forma adequada, pois a “escola da vida” também precisa melhorar!
“Popular” precisa deixar de ser sinônimo de subdesenvolvimento intelectual, que às vezes é estimulado por elites arrogantes e insensíveis, que querem o povo ignorante para reinar! Tampouco pode ser um arreio, que a falta de mobilidade social faz alguns colocarem em si próprios.
Formar analfabetos funcionais não resolve: é preciso que a aprendizagem transforme vidas para melhor!
Dificuldades existem sempre que um caminho é iniciado. É assim para andar, falar, ler, escrever, em suma, para viver!
Assim, pais não devem desistir dos filhos; nem professores, dos alunos ou de si mesmos; nem o país, de seus cidadãos: professores e alunos, que todos sempre seremos!
 
Adilson Luiz Gonçalves
Mestre em Educação
Escritor, Engenheiro, Professor Universitário (UNISANTOS e UNISANTA) e Compositor
Home page: www.algbr.hpg.com.br
Músicas: br.youtube.com/adilson59
adilson@unisantos.br – prof_adilson_luiz@yahoo.com.br

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Num "Pixar" de olhos

Tenho andado meio tenso, por conta de alguns problemas que poderiam ser facilmente resolvidos, mas que dependem da boa vontade de terceiros. A saúde sofreu reflexos com isso e a motivação para escrever também. Não conseguia produzir uma linha sequer, talvez porque, como só escrevo o que sinto, não expressaria nada “edificante”.
Nessas horas é que eu dou ainda mais valor a minha mulher e meu filho!
E por falar em filho, eu estava em meio a uma batelada de exames clínicos, quando ele, cinéfilo como eu, sugeriu, para me distrair, que assistíssemos “UP ALTAS AVENTURAS” (Up, EUA, 2009).

Filme infantil? Não, nenhum filme da Pixar é infantil: todos são para públicos do ventre materno à eternidade!
Outra marca desse fantástico estúdio é que todas as suas produções são obras-primas visuais e de roteiros, mesmo quando não se diz uma única palavra, como é o caso dos curtas iniciais: filmes-mudos modernos!
Fomos à primeira seção vespertina, na esperança de encontrar um ambiente isento dos incômodos que eu, por mais que tente evitar, “atraio”.
Momentos de tensão: havia uma fila de crianças de três a quatro anos de idade, acompanhadas de “tias”! Até aí, nada a fazer, pois o filme era livre e crianças dessa idade ainda não têm noção de como comportar-se em público. Para minimizar eventuais problemas, sentamos na penúltima fileira, a uma distância “segura”.

As luzes se apagaram e a projeção dos “trailers” começou... Surpresa: a partir daí as crianças tiveram comportamento exemplar! Mas, de repente, em meio à escuridão, uma massa indefinida e rumorosa galgou as escadas, assustadoramente em nossa direção...
Comecei a rezar para todos os santos, mas não teve jeito: o grupo de adolescentes, de uns dezesseis anos, com a sala praticamente vazia, resolveu sentar bem atrás de nós...
Quando o filme começou, no entanto, a maioria deles passou a assisti-lo: aquilo que normalmente se faz num cinema. Mas a alegria durou pouco... Dois deles, um rapaz e uma moça, resolveram mostrar suas “qualidades” sociais, logo atrás de quem?

Pois é... Ele devia se achar engraçado imitando a toda hora o “Freddy Mercury Prateado”; ela, literalmente, só falava m... Para piorar, a donzela apoiava os pés na minha poltrona, sacudindo-a repetidamente.
Como um dos exames que eu faria no dia seguinte exigia que eu evitasse estresse, e eles não se contiveram nem com indiretas, precisei mudar de lugar para, assim, poder apreciar melhor esse fantástico filme, perfeito em detalhes e magnificamente dublado, principalmente por Chico Anísio, que emprestou sua voz ao personagem principal.

Mais uma vez, a Pixar se superou! Contou uma estória que vai da infância à idade avançada, sem envelhecer. Comoveu e fez rir com e no tempo preciso. Nos fez sonhar e pensar no mesmo sonho, na mesma aventura vertiginosa, com uma trama perfeita.
Os filmes da Pixar, por seus personagens e roteiros, passam a impressão de que seus profissionais, além de extremamente competentes, devem ser pessoas muito legais!
Vale assistir mais de uma vez, mesmo que os inevitáveis chatos, de plantão ou rodízio, teimem em atrapalhar... Num “pixar” de olhos, você estará totalmente envolvido!