Minha geração nasceu e cresceu numa fase de transição: os anos de 1960 e “arredores”.A mídia televisiva teve papel fundamental nessas mudanças, apesar da censura. E mesmo sob sua sombra, as artes conseguiam suplantar preconceitos então arraigados na sociedade.O Brasil ainda tinha cidades onde havia calçadas “étnicas” e havia lugares onde o acesso era restrito, por motivos raciais: estupidez que ainda encontra exemplos, aqui e ali.Mas como era possível procurar diferenças ou razões para discriminar, morando numa cidade portuária, estudando em escola pública e brincando na rua? Na televisão, eu adorava ver e ouvir Jair Rodrigues, Wilson Simonal, Elizeth Cardoso, Elza Soares, Agostinho dos Santos, Aizita Nascimento.
Santista de nascimento e time, Pelé e Coutinho eram ícones, adjetivos para a perfeição individual e em grupo. Adhemar Ferreira da Silva era o grande bicampeão olímpico. Mas não era só no Brasil que havia referências que contrariavam a lógica imbecil da discriminação racial:Os shows de Nat King Cole e Earl Grant foram grandes acontecimentos, para os quais as emissoras de televisão destacavam seus apresentadores mais populares, e desde os anos de 1950, nomes como: B. B. King, Chubby Cheker e tantos outros povoavam filmes e programações de rádio, disseminando o rock, o soul, o blues pelo mundo.Os anos de 1960 colocaram a Motown na estratosfera, com um dos maiores elencos já reunidos: The Supremes, The Four Tops e, mais para o final da década, um grupo de garotos, que provocaram uma revolução com seus cabelos “Black Power” e coreografias inovadoras: o “Jackson Five”. O principal vocalista era um menino de voz aguda e afinada, mal saído das fraldas, que sabia agitar, em músicas como “ABC”, ou embalar rostos colados, com “I’ll be there”. No início de sua carreira solo, ele conseguiu transformar o tema musical de um filme totalmente absurdo num sucesso estrondoso: “Ben”.Dizem que seu pai era uma pessoa difícil e, ainda criança, os compromissos praticamente não davam espaço para apenas crescer. Os traumas de infância são difíceis de superar, mas ele adorava a música e o estrelato. Só que esse mundo é cruel, e quando ele chegou à adolescência, disseram que a mudança de voz acabaria com sua carreira. Mas ela pouco mudou. Mistério...
Ele, no entanto, mudou para melhor: passou a investir em repertório de qualidade, vídeos inovadores, coreografias próprias e parcerias simpáticas (Paul McCartney).Aí, começaram as mutações visuais, que já não eram mais de idade. Mas nada que afetasse suas performances ou abalasse a idolatria dos fãs ou o reconhecimento dos críticos, pois cada nova aparição era multiplamente surpreendente! Então veio o álbum “Thriller”: que disco fantástico! E ele virou o “Rei do Pop”. Só que os reis do mundo artístico não são intocáveis. Além disso, apesar de todo seu poder, ele aparentava ser uma pessoa extremamente frágil, exceto quando subia ao palco. Ele criou a fundação “Heal the World”, mas sua saúde parecia cada vez mais debilitada.As mudanças faciais ficaram mais evidentes: ele até mudou de cor! Disse que era vitiligo...
“Black or White”? Isso não deveria importar, mas ele estava levando isso às últimas consequências. Também começaram a achar que ele era realmente “Bad”: separações, escândalos... Como se esconder quando se é uma personalidade tão visada? Como confiar em amizades sinceras num meio onde pululam segundas e terceiras intenções?Ele buscou isolamento, mas vieram os problemas financeiros...
E como ficar longe da arte e dos palcos? Ele quis voltar e seus fãs os queriam de volta: 50 shows programados, com ingressos esgotados! Ele precisou ver vídeos antigos, para reaprender alguns de seus passos. Como seria? Não foi...
Talvez agora Michael Jackson encontre descanso em sua nova “Neverland”...