segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Natal - Fé na humanidade

As alterações climáticas me preocupam. A insensatez inconsequente da maioria dos governantes e empresários globais, também. Mas o que mais me assusta é a proliferação de arautos do caos, que procuram tirar máximo proveito da fragilidade emocional e ingenuidade de crianças, adolescentes e pessoas simples. Esses indivíduos proclamam o fim de tudo, como se mais nada houvesse a fazer, a não ser cuidar da alma, mas nunca esquecem de “passar a sacolinha”, cuja coleta investem em bolsas de valores, paraísos fiscais, redes de TV...


Para que dinheiro e propriedades, se não ficará pedra sobre pedra? Além disso, em tempos atribulados, as pessoas deveriam buscar aproximação com o semelhante, solidariedade, e não o egoísmo de uma salvação exclusiva, pessoal ou sectária, que pregam.


Há, no entanto, sintomas preocupantes nesse contexto:


Será que as pessoas perderam a esperança num mundo melhor? Será que ignoram que tudo de bom e de ruim que a humanidade fez, faz e fará é obra de gente de toda raça, ideologia e religião? Será?


Mas, se não há esperança, porque continuam a trabalhar, estudar, fazer planos, comprar bens materiais e, principalmente, gerar descendentes?


Filhos... Não seria melhor poupá-los física e psicologicamente desses dias de aflição a ranger de dentes?


Parece que alguns acham que não e até dão graças a Deus quando um deles se imola em nome de suas crenças! Será que eles não temem a morte porque a vida lhes é tão cheia de medos e preconceitos, e lhes fazem crer tão profundamente que nada podem fazer para mudar positivamente as coisas, que deixar esse mundo seria uma benção.


Se essa é a lógica do tempo presente, então as mortes deveriam ser vingadas, mas comemoradas, e os nascimentos, pranteados por mil carpideiras!


Mas não é assim: pais amorosos, pelo mundo afora, continuam a desejar o nascimento e cuidar com carinho de seus filhos. Fazem isso porque, apesar de toda a alienação imposta por fanáticos e oportunistas, materialistas ou religiosos, guardam em si a semente divina da esperança na humanidade: máxima criação de Deus!


Esperança... Benção... Nascimento... Renascimento... Transformação!


O ser humano nasceu para viver! A morte é uma certeza, mas nunca deve ser uma meta!


Jesus poderia ter nascido e morrido, pelas condições do parto ou pelas mãos dos infanticidas de Herodes. As portas do céu teriam sido abertas do mesmo jeito, para o Filho de Deus! Mas ele precisava viver para anunciar a esperança a todos os seres humanos, para lembrar-lhes do livre-arbítrio, para dizer-lhes que as bênçãos de Deus eram universais e não um privilégio ou critério de poucos. Graças a Ele, a humanidade renasceu!


Por isso o Natal é um tempo tão importante e sempre bem vindo. E isso, não pelos presentes materiais, às vezes totalmente desprovidos de bons sentimentos, mas pela inexplicável e benfazeja sensação de esperança no futuro, de um renascer constante que contamina quem ainda não deixou esse brilho divino ser apagado em seu coração.


Enquanto houver fé e esperança, consubstanciadas no natal diário de cada pequeno Cristo, não temos o direito de desacreditar do projeto de Deus. Ele nunca desistiu de nós! Até enviou seu filho unigênito para prová-lo!


Assim, em nome Dele, de Seu e de nossos filhos, é preciso crer na humanidade e na vida, em pensamentos, atos e palavras.


Então, filhos de Deus de todas as raças, credos, gêneros e sei lá mais o quê; desejo a todos: felizes, transformadores, renovadores e infinitos Natais!

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

A difícil arte de escrever

Um dos principais diferenciais, em qualquer profissão, é a capacidade de escrever textos fluentes e objetivos.
O indivíduo pode ser extrovertido, carismático, ter um excelente “marketing” pessoal, mas se não souber transcrever suas ideias, o alcance das mesmas será limitado aos que o vêem ou ouvem.
Os antigos primeiro usaram a voz, depois desenharam, em seguida associaram sons a símbolos e, assim, surgiu a escrita. A “Babel” das distâncias fez surgir múltiplos idiomas. O estabelecimento de regras e a expansão das culturas os difundiram. Com isso, saber ler e escrever passou a ser imprescindível para a aprendizagem e o congraçamento entre os povos.
Mas, nesse universo da expressão, nem tudo é dito claramente, tanto que novos “dialetos” são criados a cada dia, com os mais diversos objetivos: no campo estratégico existe a criptografia; a Internet também tem os seus, corruptelas dos idiomas de cada país. Os sinais de fumaça e luz, os tambores, certos toques físicos também servem para comunicar. O código Morse, a Libras e o Braille também são exemplos elaborados e difusos de ferramentas de comunicação.
Para ter acesso a todo esse conhecimento acumulado pela civilização ou, simplesmente, para intercomunicar, basta ao indivíduo aprender esses códigos gráficos.
No caso idiomático e da formação básica em ciências, nos dias de hoje isso ocorre, normalmente, ao longo da formação acadêmica do indivíduo. No Brasil, isso inclui, basicamente, os Ensinos: Fundamental e Médio.
Na etapa seguinte, o Ensino Superior, espera-se que o aluno saiba expressar-se adequada e logicamente nas formas escrita e verbal, e que saiba ler e compreender um texto, para que seja dada continuidade à sua formação. Mas o que se vê frequentemente é uma sensível dificuldade nesses âmbitos. Os textos produzidos carecem de pontuação, as frases são desconexas, incoerentes; a grafia das palavras é incorreta, as expressões matemáticas são mal apresentadas, as unidades de medidas são incoerentes e por aí vai... As “pérolas” do ENEM nos fazem rir, mas são tristes sinais.
Será que não estão ensinando? Será que não estão aprendendo?
No entanto, os mesmos alunos que se expressam mal na linguagem formal são extremamente fluentes e objetivos nos “dialetos” verbais ou digitais. Nesse ambiente, eles lêem e escrevem com desenvoltura!
Qual o motivo, ou motivos, deles não o fazerem com a mesma desenvoltura na linguagem formal?
A postura do professor, nesse sentido, é fundamental!
Inicialmente, é preciso realizar que saber muito não implica ensinar bem, e que comportamento arrogante, esnobe ou extremamente rigoroso, tende a criar barreiras, em vez de ajudar a transpô-las.
O grande desafio dos professores talvez esteja não em ensinar os currículos, mas em fazê-lo de forma dinâmica e prazerosa. Os contextos devem ser considerados, a aprendizagem deve ter sentido, opções devem ser apresentadas e o professor deve ser qual uma ponte. Além disso, ele deve estar disposto a ensinar, mas, igualmente, a aprender, inclusive com suas próprias experiências e dos alunos!
O incentivo à leitura é outro caminho, pois a leitura de bons textos contribui para fixação de formas adequadas de expressão escrita. A produção individual e coletiva de textos, manuscrita e em meio digital, também é útil. Mas existem os currículos e as leituras obrigatórias...
Como conciliar o exigido e o prazeroso? Bem, esse é o desafio do professor. Mas ele não pode nem deve estar estático ou sozinho nesse processo.
A criatividade, a reflexão e a formação continuada sempre devem estar presentes. Afinal, quem ensina não pode ter medo de aprender.
O governo e a sociedade devem estar atentos a esse processo, fundamental para assegurar o desenvolvimento nacional. Isso inclui não apenas a questão das políticas educacionais e a participação ativa dos pais, mas, também, especial atenção com o que os meios de comunicação oferecem.
Não se trata de censurar músicas e programas de baixa qualidade ou gosto duvidoso, mas de oferecer opções culturais em larga escala, para todas as faixas etárias, pois a aprendizagem acontece de forma contínua, não apenas no âmbito acadêmico.
As questões da saúde e da segurança, dentro e fora das escolas, também precisam ser tratadas de forma adequada, pois a “escola da vida” também precisa melhorar!
“Popular” precisa deixar de ser sinônimo de subdesenvolvimento intelectual, que às vezes é estimulado por elites arrogantes e insensíveis, que querem o povo ignorante para reinar! Tampouco pode ser um arreio, que a falta de mobilidade social faz alguns colocarem em si próprios.
Formar analfabetos funcionais não resolve: é preciso que a aprendizagem transforme vidas para melhor!
Dificuldades existem sempre que um caminho é iniciado. É assim para andar, falar, ler, escrever, em suma, para viver!
Assim, pais não devem desistir dos filhos; nem professores, dos alunos ou de si mesmos; nem o país, de seus cidadãos: professores e alunos, que todos sempre seremos!
 
Adilson Luiz Gonçalves
Mestre em Educação
Escritor, Engenheiro, Professor Universitário (UNISANTOS e UNISANTA) e Compositor
Home page: www.algbr.hpg.com.br
Músicas: br.youtube.com/adilson59
adilson@unisantos.br – prof_adilson_luiz@yahoo.com.br

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Num "Pixar" de olhos

Tenho andado meio tenso, por conta de alguns problemas que poderiam ser facilmente resolvidos, mas que dependem da boa vontade de terceiros. A saúde sofreu reflexos com isso e a motivação para escrever também. Não conseguia produzir uma linha sequer, talvez porque, como só escrevo o que sinto, não expressaria nada “edificante”.
Nessas horas é que eu dou ainda mais valor a minha mulher e meu filho!
E por falar em filho, eu estava em meio a uma batelada de exames clínicos, quando ele, cinéfilo como eu, sugeriu, para me distrair, que assistíssemos “UP ALTAS AVENTURAS” (Up, EUA, 2009).

Filme infantil? Não, nenhum filme da Pixar é infantil: todos são para públicos do ventre materno à eternidade!
Outra marca desse fantástico estúdio é que todas as suas produções são obras-primas visuais e de roteiros, mesmo quando não se diz uma única palavra, como é o caso dos curtas iniciais: filmes-mudos modernos!
Fomos à primeira seção vespertina, na esperança de encontrar um ambiente isento dos incômodos que eu, por mais que tente evitar, “atraio”.
Momentos de tensão: havia uma fila de crianças de três a quatro anos de idade, acompanhadas de “tias”! Até aí, nada a fazer, pois o filme era livre e crianças dessa idade ainda não têm noção de como comportar-se em público. Para minimizar eventuais problemas, sentamos na penúltima fileira, a uma distância “segura”.

As luzes se apagaram e a projeção dos “trailers” começou... Surpresa: a partir daí as crianças tiveram comportamento exemplar! Mas, de repente, em meio à escuridão, uma massa indefinida e rumorosa galgou as escadas, assustadoramente em nossa direção...
Comecei a rezar para todos os santos, mas não teve jeito: o grupo de adolescentes, de uns dezesseis anos, com a sala praticamente vazia, resolveu sentar bem atrás de nós...
Quando o filme começou, no entanto, a maioria deles passou a assisti-lo: aquilo que normalmente se faz num cinema. Mas a alegria durou pouco... Dois deles, um rapaz e uma moça, resolveram mostrar suas “qualidades” sociais, logo atrás de quem?

Pois é... Ele devia se achar engraçado imitando a toda hora o “Freddy Mercury Prateado”; ela, literalmente, só falava m... Para piorar, a donzela apoiava os pés na minha poltrona, sacudindo-a repetidamente.
Como um dos exames que eu faria no dia seguinte exigia que eu evitasse estresse, e eles não se contiveram nem com indiretas, precisei mudar de lugar para, assim, poder apreciar melhor esse fantástico filme, perfeito em detalhes e magnificamente dublado, principalmente por Chico Anísio, que emprestou sua voz ao personagem principal.

Mais uma vez, a Pixar se superou! Contou uma estória que vai da infância à idade avançada, sem envelhecer. Comoveu e fez rir com e no tempo preciso. Nos fez sonhar e pensar no mesmo sonho, na mesma aventura vertiginosa, com uma trama perfeita.
Os filmes da Pixar, por seus personagens e roteiros, passam a impressão de que seus profissionais, além de extremamente competentes, devem ser pessoas muito legais!
Vale assistir mais de uma vez, mesmo que os inevitáveis chatos, de plantão ou rodízio, teimem em atrapalhar... Num “pixar” de olhos, você estará totalmente envolvido!

sábado, 24 de outubro de 2009

Black or White

Minha geração nasceu e cresceu numa fase de transição: os anos de 1960 e “arredores”.A mídia televisiva teve papel fundamental nessas mudanças, apesar da censura. E mesmo sob sua sombra, as artes conseguiam suplantar preconceitos então arraigados na sociedade.O Brasil ainda tinha cidades onde havia calçadas “étnicas” e havia lugares onde o acesso era restrito, por motivos raciais: estupidez que ainda encontra exemplos, aqui e ali.Mas como era possível procurar diferenças ou razões para discriminar, morando numa cidade portuária, estudando em escola pública e brincando na rua? Na televisão, eu adorava ver e ouvir Jair Rodrigues, Wilson Simonal, Elizeth Cardoso, Elza Soares, Agostinho dos Santos, Aizita Nascimento.

Santista de nascimento e time, Pelé e Coutinho eram ícones, adjetivos para a perfeição individual e em grupo. Adhemar Ferreira da Silva era o grande bicampeão olímpico. Mas não era só no Brasil que havia referências que contrariavam a lógica imbecil da discriminação racial:Os shows de Nat King Cole e Earl Grant foram grandes acontecimentos, para os quais as emissoras de televisão destacavam seus apresentadores mais populares, e desde os anos de 1950, nomes como: B. B. King, Chubby Cheker e tantos outros povoavam filmes e programações de rádio, disseminando o rock, o soul, o blues pelo mundo.Os anos de 1960 colocaram a Motown na estratosfera, com um dos maiores elencos já reunidos: The Supremes, The Four Tops e, mais para o final da década, um grupo de garotos, que provocaram uma revolução com seus cabelos “Black Power” e coreografias inovadoras: o “Jackson Five”. O principal vocalista era um menino de voz aguda e afinada, mal saído das fraldas, que sabia agitar, em músicas como “ABC”, ou embalar rostos colados, com “I’ll be there”. No início de sua carreira solo, ele conseguiu transformar o tema musical de um filme totalmente absurdo num sucesso estrondoso: “Ben”.Dizem que seu pai era uma pessoa difícil e, ainda criança, os compromissos praticamente não davam espaço para apenas crescer. Os traumas de infância são difíceis de superar, mas ele adorava a música e o estrelato. Só que esse mundo é cruel, e quando ele chegou à adolescência, disseram que a mudança de voz acabaria com sua carreira. Mas ela pouco mudou. Mistério...

Ele, no entanto, mudou para melhor: passou a investir em repertório de qualidade, vídeos inovadores, coreografias próprias e parcerias simpáticas (Paul McCartney).Aí, começaram as mutações visuais, que já não eram mais de idade. Mas nada que afetasse suas performances ou abalasse a idolatria dos fãs ou o reconhecimento dos críticos, pois cada nova aparição era multiplamente surpreendente! Então veio o álbum “Thriller”: que disco fantástico! E ele virou o “Rei do Pop”. Só que os reis do mundo artístico não são intocáveis. Além disso, apesar de todo seu poder, ele aparentava ser uma pessoa extremamente frágil, exceto quando subia ao palco. Ele criou a fundação “Heal the World”, mas sua saúde parecia cada vez mais debilitada.As mudanças faciais ficaram mais evidentes: ele até mudou de cor! Disse que era vitiligo...

“Black or White”? Isso não deveria importar, mas ele estava levando isso às últimas consequências. Também começaram a achar que ele era realmente “Bad”: separações, escândalos... Como se esconder quando se é uma personalidade tão visada? Como confiar em amizades sinceras num meio onde pululam segundas e terceiras intenções?Ele buscou isolamento, mas vieram os problemas financeiros...

E como ficar longe da arte e dos palcos? Ele quis voltar e seus fãs os queriam de volta: 50 shows programados, com ingressos esgotados! Ele precisou ver vídeos antigos, para reaprender alguns de seus passos. Como seria? Não foi...

Talvez agora Michael Jackson encontre descanso em sua nova “Neverland”...